Inspirado no MG TD de 1950, o
MP Lafer foi a primeira réplica feita no Brasil. Usando mecânica Volkswagen, o
modelo chegou a ser exportado
Apresentando ainda como protótipo, durante o
salão do automóvel de 1972, o MP Lafer chamou muita atenção dos que ali
visitavam. E não era para menos, o carrinho uma cópia do modelo inglês – MG TD,
de 1950, um modelo de grande prestígio da marca inglesa no pós II Guerra.
Com a Lafer, o Brasil começava a produzir
réplicas, prática comum nos Estados Unidos e na Europa. A réplica nada mais é
do que um carro mecanicamente atualizado, mas que conserva boa parte da
aparência original. Além disso, pode haver concessões para melhorar a segurança
e itens de conforto.
A construção do modelo ficou a cargo do Grupo
Lafer, de propriedade de Percival Lafer. Ele tinha uma indústria de móveis e
artigos em fibra de vidro (faziam as cabines de orelhões). Outro detalhe
importante que vale lembrar, foi que durante a feira Brasil Export, realizada
na Bélgica, a réplica brasileira recebeu inúmeros elogios, inclusive dos
dirigentes da MG inglesa. Parte dos louvores se deu devido à construção bem
feita do carrinho brasileiro.
Construção
Apurada
Com uma larga experiência na utilização de
fibra de vidro, uma das qualidades do MP Lafer era a construção cuidadosa das
carrocerias, algum pouco comum em pequenos fabricantes. Esse cuidado se
deu ainda durante a frase de testes do modelo. No protótipo foi encontrada uma
fissura junto ao cofre do motor. Por causa do ocorrido, as carrocerias das
versões definitivas passaram a ser espessas e construídas em duas partes. Em
seguida eram unidas à plataforma Volkswagen.
O modelo foi lançado oficialmente em abril de
1974. Chamavam a atenção os detalhes dos acabamentos externos bem feitos.
Somente a traseira destoava um pouco do conjunto, já que foi necessário
implantar uma “caixa” para abrigar o motor. Para não fugir muito ao
padrão original, um falso estepe foi adicionado. As aletas existentes nesta
roda serviam para refrigerar o motor. As lanternas traseiras eram as do Fuscão.
Em 1976 as lanternas mudaram e passaram a ter um desenho próprio. Eram mais
longas e estreitas.
Já na aparência somente olhares mais atentos
poderiam notar algumas diferenças no tamanho da réplica. O pára-choque traseiro
era pouca coisa maior do que o do MG. A grade dianteira cromada e com o símbolo
“MP” era mais curta e mais alta se comparado ao modelo original. A carroceria,
por sua vez, era mais alta e larga. As portas do protótipo eram do tipo
suicida, já nos carros definitivos passaram a abrir para frente. Essa decisão
foi tomada porque alguns carros iriam ser exportados e as leis locais não
permitiam tal operação de abertura.
Outra mudança efetuada foi no bocal de
reabastecer. Antes na tampa do falso radiador, passou a ser dentro do
porta-malas dianteiro. O tanque tinha capacidade para 41 litros. Como opcional,
a dianteira podia receber três faróis de iodo. Já as rodas de magnésio
de 6 polegadas possuíam um desenho bonito, com o acabamento polido que davam um
ar clássico ao modelinho. Nas laterais do longo capô dianteiro, também estavam às
falsas saídas de ar.
Devido à utilização da plataforma Volkswagen, a
forma de dirigir ficou mais confortável do que no MG. Tudo porque os pedais e a
alavanca de câmbio foram recuados. Os pedais, por exemplo, retrocederam em 20
cm. A haste do câmbio ficou mais próxima ao motorista, fazendo com que os
movimentos naturais dos pés fossem mais fluidos. Somente o freio de
estacionamento teve sua posição alterada. Se no MG estava entre os bancos, no Lafer
ele foi instalado embaixo do painel, obrigando o condutor a se esquivar para
acioná-lo. Os bancos individuais eram anatômicos e possuíam ajustes de
distância, mas o encosto não oferecia regulagem. As revistas de época elogiavam
o conforto interno, superior ao MG inglês.
Motores a ar
Durante o tempo em que foi fabricado a Lafer
ofereceu três motores ao MP. Começou com o 1500 cm³ com carburador simples que
rendia 52 cv. Apesar do estilo esportivo, a velocidade máxima ficava em apenas
119 km/h.
Para linha 1975 foi oferecido o motor 1600 cm³
com 60 cv, o mesmo da Brasília, mas ainda alimentado por um carburador de
corpo simples. Nessa configuração houve uma melhora no desempenho, indo
aos 125 km/h. A última mudança no tocante a mecânica ocorreu em março de 1976.
Nesse ano houve a introdução do motor 1,6 litro de dupla carburação com 65 cv.
Com esse propulsor o carrinho passou atingir velocidade final de 130 km/h e
aceleração de 0-100 km/h em 18 segundos. O câmbio era sempre de quatro marchas.
Em termos de comparação o MG possuía um motor de quatro cilindros em linha,
refrigerado a água. Tinha 1250 cm³ e potência de 55 cv. Sua velocidade final se
equiparava aos 130 km/h do motor mais forte MP.
A dirigibilidade era boa, segundo a revista
Quatro Rodas, que testou o modelo. Mesmo tendo a maior parte do peso
concentrado atrás devido ao motor, o tanque de combustível na dianteira dava um
contrapeso. No limite poderia sair de traseira, mas algo fácil de corrigir
disse a revista.
Os freios a disco na dianteira e a tambor na
traseira paravam o carro dentro do limite. Aliás, parte desse acerto dinâmico
foi a sua construção, já que não foi preciso fazer nenhum tipo de mudança na
plataforma como cortes para adaptação.
Interior Luxuoso
Uma das
características do MP Lafer sempre foi o bom acabamento, com emprego de bancos
em couro e painel com detalhes em madeira. Nas primeiras versões embora o painel
de instrumento mantivesse o desenho do original com os recortes duplos, era
simples a instrumentação, contendo somente o velocímetro e conta-giros à frente
do condutor. Do lado esquerdo estava o marcado de combustível. O volante de
três raios em couro era da marca Panther.
Posteriormente foi oferecido também com aro de
madeira. A madeira acompanhava o pomo da alavanca de câmbio, puxadores das
portas e console central.
A parte central era lisa e continha os botões de
limpador de pára-brisa, faróis de milha e pisca alerta, além da chave de
ignição. E no canto direito o porta-luvas. Já as portas possuíam práticas
bolsas. O carpete do assoalho era de buclê de naylon.
Para linha 1975, foi adicionado ao centro do painel
relógio, amperímetro, temperatura do óleo e pressão do óleo. Com essa
configuração, o interior ficava próximo aos MG. Também foi oferecida uma capota
em fibra de vidro, que podia ser acoplada ao teto de lona. Quando a capota
estava abaixada uma capa podia ser fixada por presilhas em cima de lona. Os
vidros laterais podiam ser retirados, porém não se oferecia um lugar para
guardá-los.
Durante os anos posteriores em que foi construído o
MP Lafer sofreu poucas mudanças, que se restringiram ao arredondamento dos
cantos e uma nova roda raiada, da marca Mangels. O modelo Clássico foi
produzido até fins de 1989. Ao todo foram fabricadas cerca de 4.300 unidades da
réplica. O sucesso foi tanto que países como Alemanha, Japão e até o Quênia
receberam o modelo.
Jovialidade do TI
Apresentado em
fevereiro de 1978, o MP Lafer TI tinha como intenção ganhar o público jovem. A
carroceria era a mesma da versão clássica, porém eram eliminados os cromados de
algumas peças.
Assim maçanetas, retrovisores,
dobradiças das portas e o painel de instrumentos eram em preto fosco. Na frente
foram adicionados dois faróis de milha retangulares. O símbolo “TI” vinha
gravado na traseira.
As opções de cores eram cinza, verde, amarelo,
branco e vermelho. Na parte mecânica foi introduzido um escape mais esportivo,
o que aumentou potência em 68 cv. Com essa modificação, o carro fazia de
0-100 km/h em 16 segundos. A suspensão foi rebaixada e foram adotadas novas
regulagens para ficarem mais firmes. Os pneus por sua vez passaram a ser
radiais.
O painel de instrumentos era em preto-fosco. Os
bancos ficaram mais baixos e receberam regulagem de encosto. Um item pouco
comum foi que os assentos ganharam bolsas infláveis para a região lombar.
Para linha 1979, houve uma mudança de ordem
estética. O TI passou a ter a grade dianteira inclinada. Sumiram as falsas
entradas de ar laterais. Os pára-choques, capa dos faróis e piscas passaram a
serem pintados na cor da carroceria.
As rodas esportivas tinham um desenho diferente e
seguiam a cor do veículo. Os vidros eram escurecidos. O volante de três raios
tinha os raios pintados em preto.
A última mudança de cunho estético foi para o Salão
do Automóvel de 1984, quando a grade dianteira passou a ser lisa, sem as
travessas da falsa entrada de ar e foi adicionado o logotipo MP no canto
superior direito. Os faróis passaram a ser quadrados, o que tirou o charme do
veículo. As rodas tiveram o desenho alterado e não eram mais pintadas. Os Lafer
TI saíram de linha junto com o modelo Clássico.
O último MP Lafer TI a deixar a linha de produção
foi em 1989. Calcula-se que cerca de 1000 unidades da série jovial tenham sido
fabricadas.
SONHO ANTIGO
O empresário
taubateano Aldo D. de Toledo Fusco nos contou que sua paixão pelo MP Lafer já
vem de longa data. “Sempre achei o MP Lafer um carro de linhas muito bonito e
interessante”, disse.
O modelo que ilustra a reportagem, um
MP Lafer TI 1978, pertencia anteriormente a um amigo e membro do Clube de Autos
Antigos de Taubaté, que resolveu vendê-lo. “Certo dia, um companheiro do nosso
clube de autos antigos, o CAAT, me ofereceu seu carro. Confesso que nunca havia
prestado muita atenção nele, mas olhando melhor gostei muito, principalmente
pelos detalhes originais”.
Para fechar o negócio Fusco contou com a
colaboração do Sr. Jean Tosseto, do MP Lafer Clube, que tirou todas as dúvidas
quanto ao modelo. Daí foi só acertar os valores e fechar o negócio, disse
o empresário.
Quanto ao estado geral do veículo não foi
necessário restaurá-lo, já que o carro estava em perfeito estado. Somente foram
recuperados painel e tapeçaria. O único item que não está original é o
retrovisor, que em breve será trocado. A parte mecânica foi toda revisada. A
pintura estava em bom estado e precisou só de um bom polimento.
Aldo Fusco nos contou uma história bastante
inusitada que ocorreu com ele e sua esposa durante um passeio. “Estávamos
passeando à noite, sem capota, quando uma barata voadora “pousou” no capô.
Minha esposa queria pular do carro, pois não gosta de barata, Por sorte o carro
estava encerado e a barata escorregou e sumiu”, contou Fusco sorridente.
LEGENDAS:
MP Lafer TI era a versão esportiva do modelo
MP Lafer TI era a versão esportiva do modelo
A qualidade na
fabricação do MP conferiu à indústria Lafer reputação mundial
Estilo de sobra até
nas maçanetas externas
Uma das
características da versão TI eram as peças em preto, ao invés de Cromadas
A sigla MP
conquistou uma legião de fãs mundo afora
Faróis redondas dão
um charme à dianteira
As lanternas eram
exclusivas do MP Lafer
A grande tampa
basculante facilitava o acesso ao porta-malas
O porta-malas
acomoda o tanque de 41 litros e o estepe
O retrovisor é o
único item não original desse Lafer TI
Tradicional motor
VW a ar 1600 é o mesmo da Brasília
O volante de três
raios e painel em preto fosco conferem um ar despojado ao Lafer TI
Alavanca de freio
de mão fica posicionada abaixo do painel
Bancos em couro
primam pelo conforto a bordo
Devido ao pequeno
porta-luvas, há praticas bolsas elásticas nas portas
O conta-giros e
velocímetro levam a assinatura MP
Instrumentação
completa e comandos centrais eram uma característica do MP Lafer
O falso estepe
imita a roda de liga leve
para-choque
pintados e lanternas escuras eram itens pouco comuns nos anos 70
Lafer TI trazia
rodas com desenho mais esportivo
FONTE: http://www.oficinabrasil.com.br/fundo-do-bau/4557
Nenhum comentário:
Postar um comentário