sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

MP Lafer, réplica brasileira do MG inglês dos anos 50 que ganhou fama internacional














Inspirado no MG TD de 1950, o MP Lafer foi a primeira réplica feita no Brasil. Usando mecânica Volkswagen, o modelo chegou a ser exportado


Apresentando ainda como protótipo, durante o salão do automóvel de 1972, o MP Lafer chamou muita atenção dos que ali visitavam. E não era para menos, o carrinho uma cópia do modelo inglês – MG TD, de 1950, um modelo de grande prestígio da marca inglesa no pós II Guerra.
Com a Lafer, o Brasil começava a produzir réplicas, prática comum nos Estados Unidos e na Europa. A réplica nada mais é do que um carro mecanicamente atualizado, mas que conserva boa parte da aparência original. Além disso, pode haver concessões para melhorar a segurança e itens de conforto.
A construção do modelo ficou a cargo do Grupo Lafer, de propriedade de Percival Lafer. Ele tinha uma indústria de móveis e artigos em fibra de vidro (faziam as cabines de orelhões). Outro detalhe importante que vale lembrar, foi que durante a feira Brasil Export, realizada na Bélgica, a réplica brasileira recebeu inúmeros elogios, inclusive dos dirigentes da MG inglesa. Parte dos louvores se deu devido à construção bem feita do carrinho brasileiro.
Construção Apurada
Com uma larga experiência na utilização de fibra de vidro, uma das qualidades do MP Lafer era a construção cuidadosa das carrocerias, algum pouco comum em pequenos fabricantes. Esse cuidado se deu ainda durante a frase de testes do modelo. No protótipo foi encontrada uma fissura junto ao cofre do motor. Por causa do ocorrido, as carrocerias das versões definitivas passaram a ser espessas e construídas em duas partes. Em seguida eram unidas à plataforma Volkswagen.
O modelo foi lançado oficialmente em abril de 1974. Chamavam a atenção os detalhes dos acabamentos externos bem feitos. Somente a traseira destoava um pouco do conjunto, já que foi necessário implantar uma “caixa” para abrigar o motor. Para não fugir muito ao padrão original, um falso estepe foi adicionado. As aletas existentes nesta roda serviam para refrigerar o motor. As lanternas traseiras eram as do Fuscão. Em 1976 as lanternas mudaram e passaram a ter um desenho próprio. Eram mais longas e estreitas.
Já na aparência somente olhares mais atentos poderiam notar algumas diferenças no tamanho da réplica. O pára-choque traseiro era pouca coisa maior do que o do MG. A grade dianteira cromada e com o símbolo “MP” era mais curta e mais alta se comparado ao modelo original. A carroceria, por sua vez, era mais alta e larga. As portas do protótipo eram do tipo suicida, já nos carros definitivos passaram a abrir para frente. Essa decisão foi tomada porque alguns carros iriam ser exportados e as leis locais não permitiam tal operação de abertura.
Outra mudança efetuada foi no bocal de reabastecer. Antes na tampa do falso radiador, passou a ser dentro do porta-malas dianteiro. O tanque tinha capacidade para 41 litros. Como opcional, a dianteira podia receber três faróis de iodo. Já as rodas de magnésio de 6 polegadas possuíam um desenho bonito, com o acabamento polido que davam um ar clássico ao modelinho. Nas laterais do longo capô dianteiro, também estavam às falsas saídas de ar.
Devido à utilização da plataforma Volkswagen, a forma de dirigir ficou mais confortável do que no MG. Tudo porque os pedais e a alavanca de câmbio foram recuados. Os pedais, por exemplo, retrocederam em 20 cm. A haste do câmbio ficou mais próxima ao motorista, fazendo com que os movimentos naturais dos pés fossem mais fluidos. Somente o freio de estacionamento teve sua posição alterada. Se no MG estava entre os bancos, no Lafer ele foi instalado embaixo do painel, obrigando o condutor a se esquivar para acioná-lo. Os bancos individuais eram anatômicos e possuíam ajustes de distância, mas o encosto não oferecia regulagem. As revistas de época elogiavam o conforto interno, superior ao MG inglês.
Motores a ar
Durante o tempo em que foi fabricado a Lafer ofereceu três motores ao MP. Começou com o 1500 cm³ com carburador simples que rendia 52 cv. Apesar do estilo esportivo, a velocidade máxima ficava em apenas 119 km/h.
Para linha 1975 foi oferecido o motor 1600 cm³ com 60 cv, o mesmo da Brasília, mas ainda alimentado por um carburador de corpo  simples. Nessa configuração houve uma melhora no desempenho, indo aos 125 km/h. A última mudança no tocante a mecânica ocorreu em março de 1976. Nesse ano houve a introdução do motor 1,6 litro de dupla carburação com 65 cv. Com esse propulsor o carrinho passou atingir velocidade final de 130 km/h e aceleração de 0-100 km/h em 18 segundos. O câmbio era sempre de quatro marchas. Em termos de comparação o MG possuía um motor de quatro cilindros em linha, refrigerado a água. Tinha 1250 cm³ e potência de 55 cv. Sua velocidade final se equiparava aos 130 km/h do motor mais forte MP.
A dirigibilidade era boa, segundo a revista Quatro Rodas, que testou o modelo. Mesmo tendo a maior parte do peso concentrado atrás devido ao motor, o tanque de combustível na dianteira dava um contrapeso. No limite poderia sair de traseira, mas algo fácil de corrigir disse a revista.
Os freios a disco na dianteira e a tambor na traseira paravam o carro dentro do limite. Aliás, parte desse acerto dinâmico foi a sua construção, já que não foi preciso fazer nenhum tipo de mudança na plataforma como cortes para adaptação.
Interior Luxuoso

Uma das características do MP Lafer sempre foi o bom acabamento, com emprego de bancos em couro e painel com detalhes em madeira. Nas primeiras versões embora o painel de instrumento mantivesse o desenho do original com os recortes duplos, era simples a instrumentação, contendo somente o velocímetro e conta-giros à frente do condutor. Do lado esquerdo estava o marcado de combustível. O volante de três raios em couro era da marca Panther.
 Posteriormente foi oferecido também com aro de madeira. A madeira acompanhava o pomo da alavanca de câmbio, puxadores das portas e console central.
A parte central era lisa e continha os botões de limpador de pára-brisa, faróis de milha e pisca alerta, além da chave de ignição. E no canto direito o porta-luvas. Já as portas possuíam práticas bolsas. O carpete do assoalho era de buclê de naylon.
Para linha 1975, foi adicionado ao centro do painel relógio, amperímetro, temperatura do óleo e pressão do óleo. Com essa configuração, o interior ficava próximo aos MG. Também foi oferecida uma capota em fibra de vidro, que podia ser acoplada ao teto de lona. Quando a capota estava abaixada uma capa podia ser fixada por presilhas em cima de lona. Os vidros laterais podiam ser retirados, porém não se oferecia um lugar para guardá-los.
Durante os anos posteriores em que foi construído o MP Lafer sofreu poucas mudanças, que se restringiram ao arredondamento dos cantos e uma nova roda raiada, da marca Mangels. O modelo Clássico foi produzido até fins de 1989. Ao todo foram fabricadas cerca de 4.300 unidades da réplica. O sucesso foi tanto que países como Alemanha, Japão e até o Quênia receberam o modelo.
Jovialidade do TI

Apresentado em fevereiro de 1978, o MP Lafer TI tinha como intenção ganhar o público jovem. A carroceria era a mesma da versão clássica, porém eram eliminados os cromados de algumas peças.

Assim maçanetas, retrovisores, dobradiças das portas e o painel de instrumentos eram em preto fosco. Na frente foram adicionados dois faróis de milha retangulares. O símbolo “TI” vinha gravado na traseira.
As opções de cores eram cinza, verde, amarelo, branco e vermelho. Na parte mecânica foi introduzido um escape mais esportivo, o que aumentou potência em 68 cv.  Com essa modificação, o carro fazia de 0-100 km/h em 16 segundos. A suspensão foi rebaixada e foram adotadas novas regulagens para ficarem mais firmes. Os pneus por sua vez passaram a ser radiais.
O painel de instrumentos era em preto-fosco. Os bancos ficaram mais baixos e receberam regulagem de encosto. Um item pouco comum foi que os assentos ganharam bolsas infláveis para a região lombar.
Para linha 1979, houve uma mudança de ordem estética. O TI passou a ter a grade dianteira inclinada. Sumiram as falsas entradas de ar laterais. Os pára-choques, capa dos faróis e piscas passaram a serem pintados na cor da carroceria.
As rodas esportivas tinham um desenho diferente e seguiam a cor do veículo. Os vidros eram escurecidos. O volante de três raios tinha os raios pintados em preto.
A última mudança de cunho estético foi para o Salão do Automóvel de 1984, quando a grade dianteira passou a ser lisa, sem as travessas da falsa entrada de ar e foi adicionado o logotipo MP no canto superior direito. Os faróis passaram a ser quadrados, o que tirou o charme do veículo. As rodas tiveram o desenho alterado e não eram mais pintadas. Os Lafer TI saíram de linha junto com o modelo Clássico.
O último MP Lafer TI a deixar a linha de produção foi em 1989. Calcula-se que cerca de 1000 unidades da série jovial tenham sido fabricadas.
SONHO ANTIGO

O empresário taubateano Aldo D. de Toledo Fusco nos contou que sua paixão pelo MP Lafer já vem de longa data. “Sempre achei o MP Lafer um carro de linhas muito bonito e interessante”, disse.

O modelo que ilustra a reportagem, um MP Lafer TI 1978, pertencia anteriormente a um amigo e membro do Clube de Autos Antigos de Taubaté, que resolveu vendê-lo. “Certo dia, um companheiro do nosso clube de autos antigos, o CAAT, me ofereceu seu carro. Confesso que nunca havia prestado muita atenção nele, mas olhando melhor gostei muito, principalmente pelos detalhes originais”.
Para fechar o negócio Fusco contou com a colaboração do Sr. Jean Tosseto, do MP Lafer Clube, que tirou todas as dúvidas quanto ao modelo.  Daí foi só acertar os valores e fechar o negócio, disse o empresário.
Quanto ao estado geral do veículo não foi necessário restaurá-lo, já que o carro estava em perfeito estado. Somente foram recuperados painel e tapeçaria. O único item que não está original é o retrovisor, que em breve será trocado. A parte mecânica foi toda revisada. A pintura estava em bom estado e precisou só de um bom polimento.     
Aldo Fusco nos contou uma história bastante inusitada que ocorreu com ele e sua esposa durante um passeio. “Estávamos passeando à noite, sem capota, quando uma barata voadora “pousou” no capô. Minha esposa queria pular do carro, pois não gosta de barata, Por sorte o carro estava encerado e a barata escorregou e sumiu”, contou Fusco sorridente.
LEGENDAS:
MP Lafer TI era a versão esportiva do modelo
A qualidade na fabricação do MP conferiu à indústria Lafer reputação mundial
Estilo de sobra até nas maçanetas externas
Uma das características da versão TI eram as peças em preto, ao invés de Cromadas
A sigla MP conquistou uma legião de fãs mundo afora
Faróis redondas dão um charme à dianteira
As lanternas eram exclusivas do MP Lafer
A grande tampa basculante facilitava o acesso ao porta-malas
O porta-malas acomoda o tanque de 41 litros e o estepe
O retrovisor é o único item não original desse Lafer TI
Tradicional motor VW a ar 1600 é o mesmo da Brasília
O volante de três raios e painel em preto fosco conferem um ar despojado ao Lafer TI
Alavanca de freio de mão fica posicionada abaixo do painel
Bancos em couro primam pelo conforto a bordo
Devido ao pequeno porta-luvas, há praticas bolsas elásticas nas portas
O conta-giros e velocímetro levam a assinatura MP
Instrumentação completa e comandos centrais eram uma característica do MP Lafer
O falso estepe imita a roda de liga leve
para-choque pintados e lanternas escuras eram itens pouco comuns nos anos 70
Lafer TI trazia rodas com desenho mais esportivo

FONTE: http://www.oficinabrasil.com.br/fundo-do-bau/4557


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